Reflexão
sobre o texto:
“O modelo dos
modelos”
O Atendimento
Educacional Especializado (AEE) é uma proposta de suporte para que as crianças
que apresentam condições ou necessidades específicas educacionais possam
desenvolver seu percurso educacional da maneira o mais satisfatória e produtiva
possível. É um modelo de atendimento construído conforme as suas
especificidades, suas pessoalidades e que importa na demanda de vários aspectos
e saberes docentes orientados a suprir tais necessidades, desenvolver
potencialidades e agir, de modo incisivo, na melhoria do aprendizado e da
acolhida educacional geral desses alunos. O AEE não é apenas método e
intervenção focada, é também afetividade e olhar humano frente a condição dos
alunos e a suas necessidades. É um exercício de compreender a diferença e a
diversidade, acolhendo suas manifestações e sendo parceiro na potencialização
de sua aceitação e cidadania. Logo, é um olhar ao diferente de tal modo que
possa ser contemplado na unicidade de sua existência.
Todos têm a
contribuir.
Na leitura de “O
Modelo dos Modelos”, texto de Ítalo Calvino, muitas questões se levantam a
respeito dos fundamentos ali colocados e a essência do AEE e, fundamentalmente
da educação inclusiva. A educação anterior à inclusão pode ser posicionada como
a época da perfeição almejada pelo Senhor Palomar, em que o que existia no
espaço educacional regular e nos objetivos da educação em geral era apenas o
uniforme, o que não apresentava divergência, o modelar. Os métodos eram
desenvolvidos para estes quadros e, a atuação do professor ocorrida de tal modo
que era inevitável a presunção de que todos poderiam compreender e se adaptar a
ele. Aliás, era bem isso: os modelos de perfeição eram justamente desejados por
terem essa possibilidade de adaptação, se ajustando e retornando o desejável.
Tudo aquilo que se esquivava disso, era sumariamente descartado. A educação era
feita e modelada, didático e metodologicamente, para essas finalidades.
Contudo, o que se via
fora dos modelos ideais era que muitos se esquivavam disso e a diversidade
humana esquivada daquele ambiente ou mesmo inserida nele e subjugada, ou
descartada, era não somente numerosa, mas rica. Em conteúdo e em
possibilidades. Mesmo assim, durante muito tempo, não foi acolhida.
Quando se percebeu que
poderia ser acolhida, foi o momento da educação em que houve convergência com o
segundo momento da vida de Senhor Palomar, em que desejava pelo maior número de
modelos possíveis, perfeitos ou não, capazes de adaptar-se a realidades
variadas, diferentes, divergentes. Compreender e aprendeu a apreciar a
dificuldade, mas assim como a Educação, tinha dificuldades em aproveitar e
lidar com tanta diversidade. Foi o momento adaptativo, de descoberta. A
educação então desenvolveu nessa etapa um modelo de atendimento, inclusivo, que
permitiria o atendimento de todas as parcelas, de modo conjunto, servindo para
todos e orientado a permitir a mesma oportunidade e chances igualmente. Embora
completamente complexo e diverso, o modelo seria como um cobertor modelável
que, jogado sobre os alunos e sua diversidade, se modelaria para suprir-lhes o
frio e equiparar suas temperaturas. Em uma parte, seria mais quente para
aquecer o aluno mais friorento, em outra, menos denso, para oferecer o conforto
para aquele menos demandante de cobertura. E assim que se movimentassem, seria
capaz de reproduzir esses ajustes conforme seus movimentos.
O AEE é a terceira
etapa da vida de Senhor Palomar, quando se apagam os modelos dos modelos e se
constitui a necessidade de uma prática única e incisiva no trato com suas
criações ou elementos, já que poderia, agindo ao contrário, criar elementos
mecânicos e padronizáveis. O AEE é para a educação o que o tratamento diverso é
para esse momento de Palomar, a possibilidade de manter a mente desembaraçada e
o desenvolvimento de um tratamento e atendimento apto a permitir a autonomia, a
criticidade e o desenvolvimento intelectual de todos no roteiro escolar. Assim,
o AEE é uma prática que não tem fórmulas, a não ser diretrizes gerais e que se
desenvolve na pessoalidade, no trabalho individual e na construção objetiva e
subjetiva de um atendimento educacional apto a desenvolver a individualidade.
Uma proposta desafiadora, mas, sem sombra de dúvida gratificante, por ser o único
meio de promover educação de verdade.
Referência
CALVINO, Ítalo, O modelo
dos modelos, UFC, 2014.